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Tocar em conjunto e os seus segredos

  • bach2psychology
  • May 5, 2024
  • 3 min read

Updated: May 14, 2024

Dentro do mundo imenso da música e dos efeitos positivos que esta traz ao ser humano, há algo que é descrito de forma praticamente universal como sendo um dos melhores sentimentos do mundo: tocar, cantar, produzir música em conjunto. Quer sejam duas, quatro ou quarenta e nove pessoas (quantas mais, melhor), a sensação é comum a praticamente a todos os músicos: algo misterioso acontece que faz com que o som dos dois, quatro ou quarenta e nove instrumentos atravessem todo o nosso corpo e deixem por lá a música a ressoar.


  Mas porque será que assim é? Porque é que sentimos algo mais quando tocamos em conjunto? E porque é que, ao fim de tantos ensaios, essa tal sensação se começa a desvanecer? São estas as perguntas que os autores do “Inner Game” tentam mais uma vez responder, usando, para tal, uma das ferramentas que menos se espera na música: a psicologia.


 Quanto à primeira pergunta, há muitas respostas possíveis. Tocar em conjunto implica existir uma sincronização da harmonia que é tocada, mas também uma conexão emocional entre os protagonistas (normalmente os instrumentistas e o maestro). São precisamente estas duas características que, combinadas, originam essa tal sensação: a sincronização permite aos músicos estarem todos na “mesma onda”, deixando-os concentrados (nada como ver um grupo de 20 violinos a subir e a baixar o arco ao mesmo tempo, ou seja, em linguagem musical, a fazer as mesmas arcadas); dentro ainda da sincronização, existe a harmonia: não estamos simplesmente a sincronizar os 20 braços dos violinistas, estamos a sincronizar as várias notas que os mesmos vão tocar, o que provoca uma sensação de completude no cérebro humano; por fim, a conexão emocional que é formada numa orquestra, por exemplo: se estiverem a tocar uma música melancólica, será esse o sentimento vivido por todos os músicos, o que irá causar uma união emocional entre todos.  


 Quanto à segunda pergunta, o livro que andamos a dissecar nos nossos posts apresenta várias soluções para o problema apresentado: usar as técnicas da vontade, confiança e consciência. Podíamos quase afirmar que “curar” essa perda de motivação ao tocar em conjunto se assemelhava a curar uma doença psicológica. Vamos então analisar estas três aptidões:

·      a vontade - se um músico quiser motivar-se num ensaio, nada melhor que estabelecer novos objetivos para a música que está a tocar. Não só ao nível da performance, tocando o melhor possível um solo ou um acompanhante de solo ou até o baixo, mas também no que toca a novas experiências e aprendizagens. Quando várias pessoas tocam ao mesmo tempo, há muito que se pode aprender e experienciar: desde coordenar o volume de som para que se atinja o equilíbrio até à comunicação entre aquilo que o maestro pretende e aquilo que os músicos tocam;

·      a confiança – se estiveres a tocar em conjunto, são muitos mais os fatores que te fazem duvidar das tuas capacidades. Por exemplo, chega o momento de fazeres uma entrada após vários compassos de espera, e o teu colega não está preparado para entrar. Será ele ou serás tu quem está errado? Há várias maneiras de recuperar a confiança e consequentemente a motivação, que passam muito pelo maestro: a essa pessoa cabe transmitir algo que deixe os seus músicos a confiar nele e nos outros (Leonard Bernstein, por exemplo, refletia o sentimento da música nos seus gestos, transmitindo confiança e liderança às suas orquestras);

·      a consciência – numa orquestra, há muita coisa a acontecer ao mesmo tempo e aquele que controla tudo isso, o maestro, não pode socorrer a todos. É aí que entra a consciência de cada músico sobre aquilo que se passa ao seu redor: controlar o volume de som em relação aos restantes instrumentos, ouvir com atenção o instrumento solista, para o acompanhar da melhor maneira, entre outros. Para tal, é necessário estar com um olho na partitura, outro no maestro e ambos na restante orquestra; um ouvido no som do nosso instrumento, o outro nos instrumentos iguais ao nosso e ambos em toda a orquestra. É um puro trabalho de "multitasking"que só é atingido após várias tentativas, mas que pode reacender essa tal sensação.

 

Concluindo, é através de todas estas técnicas que os autores deste livro sugerem que um músico recupere um sentimento de completude quando toca em conjunto com outros, utilizando não só a música em si, como todo um rol de métodos psicológicos.

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Bach2Psicology

Margarida Soares e Ricardo Pereira

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